Há muito que eu ouço o bordão: 'Apaixone-se por si mesmo'...
Em igual proporção ao tempo que eu ouço esse jargão, é o tempo que não tenho me apaixonado por mim.
Talvez estivesse em busca de uma paixão por outra pessoa; naquela vontade de achar um complemento; a tampa da panela e na impressão distorcida da minha linda Isabella, que canta: "já não há mais razão pra solidão..."
Não há mais razão para não se apaixonar por si mesmo. Não há mais razão para gostar do outro, mais do que gosta de si.
Procuro alguém que esbanje simpatia, que tenha educação, que tenha bons hábitos e que saiba conversar. Mas, me dou conta que não há ninguém melhor do que: nada mais, nada menos do que eu mesmo!
Não vou me importar se eu acordar descabelado. Não vou gostar mais ou menos, se eu estiver acima ou abaixo do peso. Não vou ter que brigar pelo controle da
tevê.Não há razão para se encabular ao ter escolher qual restaurante devem ir. Nada de ficar "cheio de dedos". Eu quero este e ponto.
É por isso que, em algum lugar do passado,
Danuza Leão já dizia que adora viajar sozinha. Não é preciso rodar pelos
shopping center´s da vida à procura daquele sapato que a outra pessoa quer. E a pizza, com cebola (que você gosta), pode vir com muito mais cebola extra do que você imagina! Não é o máximo?
Ninguém vai ligar dizendo: "onde você estava; com quem e a que horas volta?".
Ninguém vai acordar, um dia, desconfiando dos sentimentos: "o que será mesmo que eu sinto por ele(a)?"
Não existirá rival. Não precisa de desculpas, muito menos mentiras. E quanta mentira!
Não precisa de muito alarde para que o outro saiba que você é suficientemente apaixonante. Capaz de provocar paixões ardentes nas pessoas.
Não é necessário impôr presença, nem comprar roupa nova pra agradar. Nem se tá curta ou comprida, muito menos da cor que você nem gosta tanto...
Não é preciso se preocupar com presentes em datas especiais, porque, pra você, todo dia é seu dia. Todo dia é dia de ir na livraria e comprar o lançamento preferido...
Apaixonar-se por si mesmo é saber dos seus gostos. É saber o que te agrada.
É sentir-se livre. É sentir-se limpo. É poder apaixonar-se por outra pessoa, quando quiser. É permitir-se novos amores...Um, dois, três. Ao mesmo tempo. Um atrás do outro. Como você quiser; como lhe cair bem; como achar conveniente.
Não que eu queira amores assim, mas se a sua paixão por si mesmo lhe impuser tais condições, abuse. Aproveite.
É como se vivesse sem ter medo de ouvir, a qualquer momento: "tá olhando pra quem?"
É saber que você tem seus dias ruins e precisa de um tempo para voltar a ser o que é. É saber que nenhuma ciência lhe interessa mais do que aquela que você tem vocação; que escolheu pra seguir e que outro ramo - que não aquele - não te interessa tanto. Você não precisa se inteirar daquela matéria, só pra fazer "bonito", numa roda de amigos (que nem são seus amigos, na verdade).
Amar a si mesmo é programar uma viagem, pr´aquele lugar que você ainda não conhece, mas que deseja ir o mais breve possível. Marca, vai e conhece. Delicia-se, com todos os atributos de quem é apaixonado por si mesmo (Come onde quer; vai onde gosta; faz o que tem vontade).
É amar e ser amado, numa recíproca indubitavelmente proporcional. Quem duvida?
É amar o próximo, porque devemos amá-lo, como amamos a nós mesmos...
Aliás, esquecem os mandamentos bíblicos e amam o próximo, menos do que ama a si mesmo.
Apaixone-se. Mas, por você em primeiro lugar e, depois, pelo próximo.
E ainda, qualquer desorientado da vida tem o despautério de me perguntar: "mas, até quando?"
Apaixonar-se por mim mesmo? Pra sempre.
Agora, eu pergunto a você: aquele amor, paixão ou sei lá o quê, que você acha que é pra sempre; que lhe roubou o amor próprio e prometeu o céu...
Bom, esse, sim, eu posso dizer que tem hora pra acabar. Não é?